As noites normalmente frias de Janeiro são inundadas de cantares tradicionais para dar as boas-vindas ao Ano Novo.  A tradição de cantar as Janeiras é recorrente em Portugal na madrugada do Dia de Reis e encontra-se envolta num espírito popular de amigos  que se juntam para cantar de porta-em-porta, em troco de bolos e bebida.

Apesar de ser uma prática antiga associada à tradição cristã, estes cantares são originários de  costumes pagãos dos tempos romanos, mais especificamente de  Janus, Deus do passado e do futuro (que fechava a porta do ano que findava e abria a porta do que se iniciava). No entanto, acabou, nos tempos mais dificeis, por ser um pretexto dos mais desfavorecidos em obterem alguns alimentos nos meses mais escassos, tal como cantava Zeca Afonso em 1968 – “rabanadas, pão e vinho novo mata a fome à pobreza” .

Pelo sul de Portugal, no Algarve, são bem conhecidas as tradicionais charolas que, predominantemente no Sotavento, ainda se mantêm com o mesmo fulgor de há dezenas de anos, realizando Festivais e Encontros nos primeiros dias do ano: Tavira e Faro (1º domingo de Janeiro);  Vila Nova de Cacela, Estoi, Sta. Barbara de Nexe, Machados e S. Brás Alportel. As charolas são grupos organizados de pessoas que, nos dias de Ano Novo e de Reis saem à rua cantando versos ao Menino Jesus e a saudar quem os recebe.

Cantar as Janeiras pelas Charolas é muito mais do que o seu simples reportório musical;  é uma ancestral manifestação cultural que ainda perdura em Portugal.