Há cinquenta anos, os ventos de abril varreram as amarras da ditadura em Portugal, concedendo-nos o mais precioso dos tesouros: a liberdade. Antes dessa viragem histórica, vivíamos sob o peso das proibições que toldavam as nossas vozes e restringiam o futuro das nossas estórias. As mesmas estórias que hoje, no Mar d’Estórias, celebramos.
Outrora, era proibido falar livremente sobre temas sensíveis como a política, uma restrição que moldava os diálogos e limitava a expressão individual. As palavras eram silenciadas e o lápis azul da censura diminuía a verdade. Os que desafiavam a mordaça da ditadura enfrentavam consequências, por isso a troca de ideias acontecia apenas entre sussurros.
Nas escolas, a segregação era norma, pois não existiam turmas mistas. A liberdade de aprendizagem era tolhida pela rigidez do sistema educacional. As professoras precisavam da aprovação do ministro da Educação Nacional para casar, desde que os seus salários não ultrapassassem os dos maridos. Enquanto as enfermeiras, hospedeiras e telefonistas eram confinadas à condição de solteiras. As mulheres enfrentavam uma teia de restrições, desde a necessidade de autorização dos maridos para viajar até limitações nas escolhas profissionais.
Vender Coca-Cola, uma bebida que transcendeu fronteiras, era proibido em solo português. Foi exatamente o slogan que Fernando Pessoa criou para esta bebida, “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” que a tornaria proibida em Portugal. Os isqueiros, objetos banais hoje em dia, eram controlados pelo estado, sendo necessária uma licença para possuí-los.
A liberdade é agora a lente através da qual vemos o mundo. Podemos expressar livremente as nossas ideias, partilhar estórias autênticas e construir pontes entre as diferentes narrativas que compõem o nosso país. A liberdade é um bem precioso que deve ser cuidadosamente protegido para as futuras gerações.
No Mar d’Estórias, continuamos a ser os contadores de muitas estórias, celebrando a liberdade que nos permite partilhar, aprender e crescer com elas. Os ensinamentos de abril têm vários conceitos e contornos que devem perdurar na memória. A liberdade foi conquistada por todos, quem a condicione nunca poderá se julgar livre e ficará para sempre preso a essa luta.