O nome Viarco pode passar ao lado de algumas pessoas menos atentas. O que é facto, é que esta fábrica já nos acompanha desde 1907, na altura com o nome de Portugália, em Vila do Conde. No ano de 1936 o novo proprietário da fábrica, Manoel Vieira Araújo muda o nome para Viarco, uma junção do nome da sua primeira fábrica de chapéus, Vieira Araújo e Companhia.
Se falarmos sobre os lápis com a tabuada, talvez aguce a memória de alguns. Esses lápis que tanto jeito deram aos alunos da primária e que alguns professores excluíam na hora de fazer exames.
Falar da Viarco e não tocar na história dos últimos 112 anos, parece uma tarefa complicada. O passado funde-se perfeitamente com o presente e o futuro, e todos os espaços de tempo foram e serão importantes para esta marca.
A história desta fábrica é hoje contada por um dos familiares do fundador, o seu bisneto – José Miguel Araújo – que está neste momento à frente da única fábrica de lápis em Portugal e provavelmente uma das mais versáteis a nível Mundial.
Esta fábrica resistiu a uma mudança de cidade, resistiu à ditadura e a uma crise económica que quase obrigou ao encerramento de portas. Mas como o desejo de continuar o projeto era enorme, a pesquisa, o desenvolvimento de novos métodos de produção e sobretudo a criatividade vieram resolver alguns problemas que a própria crise trouxe a tantas outras empresas portuguesas.
Descobriram-se virtudes nas máquinas antigas, que estavam na fábrica desde 1941 na cidade de São João da Madeira. Usaram as máquinas, para produzir em pequena escala, novos produtos direcionados às Belas Artes, produtos industrializados que carecem de cuidados minuciosos e manuais no fim. Este seria um problema que as fábricas com tecnologia de ponta, nunca conseguiriam ultrapassar. O fator tempo salvou o futuro da fábrica!
Na zona que antes se destinava à fábrica dos chapéus estão hoje guardados tesouros de outra era. São lápis personalizados com várias marcas portuguesas, vão desde marcas de vinho, de eletrodomésticos, hotéis, padarias e até a coca-cola, sendo esta uma marca internacional. Estiveram também presentes na famosa exposição do mundo português em 1940, organizada por Oliveira de Salazar, com produtos feitos de propósito para o evento.
Se eventualmente for ao MoMA em Nova Iorque, é bem capaz de encontrar produtos da marca. Em 2010 era um dos objetos mais vendidos na loja de souvenirs do museu de arte moderna. A marca anda a par e passo, já há algum tempo, com as artes plásticas, com designers, arquitetos, ilustradores, associações culturais e todos os que de arte entendem.
Na Viarco é possível fazer uma reunião com amigos, artistas e designers, simplesmente para perceber qual o produto que faz falta no mercado. Segundo o atual proprietário da Viarco José Miguel Araújo, o apoio e a criatividade dos amigos e clientes é essencial para que a fábrica evolua. Foi numa destas reuniões, que o pintor José Emídio recordou uma conversa e a experiência que teve com António José Vieira Araújo, antigo proprietário. Este, utilizou uma massa maleável de grafite que se podia misturar com água e que supria a necessidade de material para trabalhos de grandes escalas. Deste ponto, surgiu a ideia de produzir uma nova linha de produtos, a Art Graf. Ao longo do tempo, as ideias à volta do grafite aquarelável foram fluindo e hoje conta com 13 produtos, todos ligados às artes plásticas. Entre eles, os lápis Art Graf Soft Carbon, que tem a mesma função, mas com a forma tradicional de um lápis, que auxilia nos traços mais precisos.
Um pequeno exemplo, de como a fábrica mantém um relacionamento estreito com as artes, são as residências artísticas, onde cedem o espaço e facultam material. Existe uma simbiose que resulta entre Ricardo Pistola – artista residente – e a empresa. O artista plástico experimenta os materiais e dá a sua opinião e caso seja necessário algo específico, basta pedir.
Este mesmo artista, teve uma participação no Viarco Express em 2009. Uma atividade ao estilo surrealista do Cadavre Exquis, onde o testemunho era um lápis e não um papel dobrado. Todos os 100 registos, uns mais artísticos que outros, reuniram-se numa exposição no museu da Presidência da República e mais tarde no livro “Um século, dez lápis, cem desenhos – Viarco Express”. A escolha do artista para a passagem do testemunho, ou seja, o lápis, ganhou uma certa liberdade. Durante três anos ninguém soube qual o rumo que esta aventura iria tomar. Apenas era sabido que o objeto “lápis” é transversal a muitas profissões, por essa razão 10 lápis passaram pelas mãos de ilustradores, designers, arquitetos, como por exemplo: Álvaro Siza Vieira, Joana Vasconcelos, Paula Rego ou Julião Sarmento. Grandes nomes encontraram-se nesta aventura, e partilharam um objeto que todos nós usámos, o lápis da Viarco.
Esta é uma fábrica portuguesa, que conta a história portuguesa e que ajudou a tantos outros a escrever a sua própria história. Uma marca versátil, criativa, que acredita que a cooperação é um meio para todos vencermos.