EDIFÍCIO
Testemunho da história desde o século XV, momento em que foi edificada a Igreja do Corpo ou Espírito Santo, este edifício reflecte uma das primeiras manifestações do renascentismo no Algarve. É exactamente no século XV, sob o reinado de Dom Manuel I, que são folheadas as primeiras páginas do capítulo dos descobrimentos marítimos, em que toda a zona que ladeia a ribeira de Bensafrim assume grande importância.
Antigo “Compromisso Marítimo de Lagos”, contíguo à Igreja que acolhia a “Irmandade do Corpo Santo dos Pescadores da Cidade”, o edifício detinha um pórtico de acesso majestoso, com dois medalhões esculpidos com rigor e detalhe, evidenciando uma arquitectura tipicamente renascentista. O portal podia mesmo ser a entrada actual para o “Mar d’estórias”, não fosse ter sido trasladado, em 1936, para a entrada principal do museu municipal Dr. José Formosinho, a poucos metros de distância.
Para além de Igreja do Corpo Santo e Compromisso Marítimo de Lagos, o edifício serviu de armazém de vinhos e cereais, em 1916, e de sede e quartel dos bombeiros de Lagos, em 1932, registo que se manteve durante mais de cinquenta anos. Em 2003, o edifício fica devoluto e têm lugar apenas alguns eventos e exposições ocasionais, sem constância no tempo.
Apesar da importância histórica e arquitectónica deste edifício, o carácter efémero e, por vezes, esporádico das utilizações, não ajudou na construção de uma identidade sólida. A acrescer a esse facto, as alterações que retiraram ao edifício o já mencionado pórtico da entrada, a bonita talha dourada, o altar-mor, contribuíram para a perda de parte do seu valor histórico original.
Apesar de o terramoto e maremoto de 1755 terem destruído grande parte do edifício, nomeadamente o tecto em abóbada de berço do corpo principal (antiga sacristia), houve coisas que resistiram e acabaram por servir de testemunho físico da época. Por exemplo, por cima da porta da entrada principal estava o coro da igreja que tinha como suporte um arco, que ainda hoje é visível e suporta a actual mezzanine, tal como alguns tectos em abóbada que também se mantém.
A importância de descodificar o significado, material e imaterial, do edifício está no facto de esse ter sido o próprio agente construtor do conceito central do projecto. Ou seja, o “Mar d’estórias” e a sua identidade foram surgindo à medida que íamos compreendendo o papel do edifício na história.
Neste sentido, o papel inicial do “Mar d’Estórias” foi o de restituir a dignidade máxima do edifício e devolver toda a sua alma. Procurámos reconstruir e reparar tudo o que fosse possível, utilizando materiais apropriados para o tipo de intervenção. O tecto de caixão em madeira, onde é hoje a galeria de eventos, foi totalmente refeito. Foi feito um estudo arqueológico da evolução da edificação com a passagem dos anos e o edifício foi equipado de forma a adaptá-lo, com todo o conforto e comodidade actuais, a um espaço público de comércio e cultura portugueses.
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