Sabia que Portugal foi um dos poucos países da União Europeia a não abandonar a sua indústria têxtil? E que hoje mantém uma qualidade ímpar nos tecidos que produz?
Enquanto muitos países europeus viram a sua indústria têxtil desaparecer para mercados de baixo custo, Portugal seguiu um caminho diferente. Apostou na inovação, na qualidade e na sustentabilidade, garantindo que o “Made in Portugal” se tornasse sinónimo de excelência. Hoje, as marcas nacionais e internacionais procuram cada vez mais as fábricas portuguesas e os números não mentem: só em 2023, os Países Baixos importaram 194 milhões de euros em vestuário português, uma tendência que foi crescendo desde 2019. Hoje, a indústria têxtil é um pilar da economia nacional, representando cerca de 7% das exportações do país e empregando mais de 123 mil pessoas. É no norte de Portugal que se concentra grande parte da indústria têxtil. Algumas fábricas investiram na inovação, enquanto outras mantêm viva a tradição e o saber fazer de gerações.
A resiliência e visão da indústria portuguesa destacam-se no panorama europeu, no entanto, têm de lutar contra a concorrência. Países cujos padrões laborais e ambientais estão longe das exigências mundiais atuais, continuam a estar à frente e a produzir com valores irrealisticamente baixos.
Nesta indústria existe ainda a herança dos tecidos como o linho português, a Chita de Alcobaça, ou ainda o Burel.
O linho assume um papel de destaque na indústria têxtil portuguesa, sobretudo no setor dos têxteis-lar. Várias empresas especializadas têm-se afirmado pela produção de peças de cama e mesa em linho de elevada qualidade, conquistando mercados exigentes como a Suíça, Suécia, Espanha, Reino Unido e os Estados Unidos. Este reconhecimento internacional posiciona a indústria têxtil-lar portuguesa nos segmentos médio-alto e alto, uma reputação reforçada pela presença regular de marcas nacionais em feiras internacionais como a Heimtextil, em Frankfurt.
Já a Chita de Alcobaça tem uma história que remonta à época dos Descobrimentos Portugueses. Embora o nome sugira uma origem em Alcobaça, a produção deste tecido na cidade só começou no século XVIII e a origem da designação permanece um mistério. A Real Fábrica de Tecidos de Algodão de Alcobaça especializou-se na produção de tecidos brancos, como lenços e cambraias, que passaram a ser decorados com padrões de flores, frutos e animais. Estes desenhos foram inspirados nos tecidos trazidos anteriormente da Índia e da Pérsia durante os tempos das Descobertas.
O Burel é um tecido robusto, tradicionalmente usado pelos pastores da Serra da Estrela para se protegerem do frio e da chuva. Feito a partir da lã de ovelhas das raças Bordaleira e Churra Mondegueira, este material grosso e áspero quase caiu em desuso. No entanto, em 2010, uma marca decidiu revitalizá-lo e conseguiu torná-lo um símbolo de qualidade, tanto em Portugal como no estrangeiro. A marca não só introduziu o Burel no vestuário, como também aplicou-o em peças de têxteis-lar e até no calçado. Hoje, o burel é um tecido que oferece inúmeras possibilidades, sendo cada vez mais valorizado pela sua durabilidade e qualidade. A sua versatilidade tem conquistado novos mercados e cativado a imaginação de designers e artesãos.
A chave do sucesso do têxtil português não está numa indústria massificada, mas na capacidade de produzir com excelência, diferenciando-se pela qualidade, inovação, materiais premium, sustentabilidade e tecnologia. Esses são os elementos que têm atraído marcas de todo o mundo a apostar na produção nacional. Um exemplo claro disso é a marca nacional Broolls, que recentemente decidiu investir no mercado de vestuário e acessórios totalmente produzidos em Portugal.
Começaram com uma coleção de óculos feitos à mão e, agora, expandiram o seu portfólio para incluir malas, t-shirts, hoodies e bonés, sempre com o selo de qualidade portuguesa. O espaço Mar d’Estórias foi escolhido como palco de destaque para a apresentação dos seus novos produtos, simbolizando não só a confiança na qualidade da produção nacional, mas também a aposta na diferenciação e no design. A Broolls é um exemplo de como é possível criar um futuro promissor na indústria têxtil nacional.