O sal é muito mais do que um simples tempero, é um dos ingredientes mais antigos e essenciais da história da humanidade. A sua importância remonta a tempos em que não existiam frigoríficos, sendo fundamental para a conservação dos alimentos e, em muitas civilizações, utilizado como moeda de troca. Aliás, a própria palavra “salário” tem origem no sal, refletindo o valor que este recurso teve ao longo dos séculos.

Sendo a única rocha comestível, o sal atravessa todas as culturas e cozinhas do mundo, desempenhando um papel insubstituível na gastronomia ao realçar os sabores dos alimentos. No Algarve, a tradição das salinas tem raízes profundas, e ainda hoje marcas como a Salmarim, de Castro Marim, preservam a autenticidade e qualidade do sal marinho artesanal, mantendo viva uma herança milenar.

No Algarve, o legado das salinas estende-se por mais de dois mil anos, com os primeiros registos a datarem à época dos fenícios e consolidado durante a ocupação romana. Naquele período, a produção de sal atingiu um patamar elevado, servindo para salmoura de peixe, o célebre garum. Vestígios arqueológicos, como tanques de salga e estruturas destinadas à extração, podem ser encontrados em diversas localidades costeiras, nomeadamente em Castro Marim, Tavira e Olhão, evidenciando a importância histórica desta prática.

As salinas do Algarve e de outras zonas do país continuaram a florescer, representando uma fonte vital de rendimento para Portugal. No século XVI, com a expansão marítima, o sal consolidou-se como um produto de elevado valor, indispensável para conservar o bacalhau e outros peixes, impulsionando o comércio com os países do norte da Europa.

Atualmente, as tradicionais salinas, como as de Castro Marim e Tavira, mantêm métodos artesanais que realçam a qualidade do sal marinho e da flor de sal, reconhecidos nacional e internacionalmente. A tradição das salinas do Algarve não é apenas um vestígio do passado, ela vive na atualidade, perpetuando uma herança milenar e enriquecendo as nossas tradições gastronómicas.

 

O que é a flor de sal?

A flor de sal é um cristal delicado que se forma à superfície das camadas superiores das salinas. Trata-se de uma variedade rara e valiosa de sal, cuja recolha exige condições ideais, como sol, vento, calor e humidade. Este sal, rico em minerais e nutrientes naturais, é utilizado principalmente para finalizar pratos, ao contrário do sal comum. A sua extração é feita manualmente, utilizando apenas espátulas para retirar a primeira camada. A França foi pioneira na recolha deste cristal, o que explica o facto de o nome “Fleur de Sel” ainda ser utilizado em países como Inglaterra, Alemanha e Países Baixos.

 

A pitada da Salmarim no Algarve

O sal da Salmarim é recolhido provavelmente numa das mais antigas salinas de Castro Marim, cuja origem remonta à presença fenícia. A empresa está atualmente sob a direção da família de Jorge Raiado, que no passado dependia da indústria conserveira para comercializar o seu produto. Hoje, o foco da empresa está exclusivamente no sal, sendo agora promovido como um produto gourmet, respondendo à crescente procura por ingredientes de elevada qualidade.

A preocupação em garantir um produto de excelência vai além do sal. As embalagens, cuidadosamente desenhadas, asseguram a durabilidade e qualidade do produto, destacando-se em qualquer prateleira. Criadas por artistas portugueses, as embalagens receberam, em 2023, o prémio internacional de design, nos Red Dot Design Awards, por serem compostas exclusivamente por materiais nacionais. A cortiça, presente na parte externa, envolve um frasco de vidro reciclado no interior, contribuindo para apoiar a indústria vidreira. Complementando o conjunto, está uma colher de madeira esculpida manualmente a partir de desperdícios de madeira.

Cada frasco contém combinações aperfeiçoadas ao longo do tempo. Entre as opções disponíveis estão a gama Fogo, que combina flor de sal com malagueta, a Violeta, com flor de sal, violetas e figo seco, a Algarve, que inclui flor de sal e tângera, e a Coração, que mistura flor de sal com tomate coração de boi do Douro.

 

No Mar d’Estórias, encontramos estas e tantas outras estórias que nos levam ao verdadeiro Algarve, onde o mar e a terra oferecem produtos simples, que depois se transformam em sabores únicos.