Imagine-se a entrar num edifício histórico e altivo, com três andares, onde até as paredes contam histórias e o ar que se respira é carregado de significado.
Agora pense que neste edifício você será o percursor de um labirinto de histórias, imagens, produtos, cheiros, sabores e texturas. Onde tudo foi criteriosamente seleccionado a dedo para representar o melhor de Portugal. Um Portugal onde as mãos fizeram a arte, a arte fez o costume e o costume ditou a sociedade. Numa era que privilegia as massas em detrimento dos grupos, a produção em detrimento da criação e o resultado em detrimento do processo. Nesta era, que há de chegar a um limite de tão inchada que não tem por onde crescer mais, somos um povo cuja história interessa aos demais, pelos feitos e os saberes, pela forma como levámos o mar para a mesa, como usámos o que tínhamos de melhor, como desenvolvemos o gosto pela prática do artesanato, da pesca, da gastronomia.
Aqui, em tempos idos, tínhamos um local de convívio e de partilha, onde se juntavam os mareantes de Lagos, as gentes do mar, da pesca e da cidade. O compromisso marítimo, possivelmente mandado fundar pelo Rei Dom João V, acolheu serões e zelou pelos interesses de uma comunidade sumamente piscatória.
Neste mesmo edifício, erigido há mais de 500 anos, testemunho de diferentes épocas e espectador de várias gerações, o Mar d’Estórias surge para ser o mesmo local de convívio, partilha e comunidade. Os materiais, as técnicas e a mão de obra especializada contribuíram para a recuperação máxima do espaço, mas no sentido histórico, na carga simbólica e na própria alma jamais alguém poderia mexer. Porque esses cristalizam no tempo e fundem-se nos rasgos da memória.