Hoje, o Mar d’Estórias debruça-se sobre a cultura e as artes cénicas do Teatro Experimental de Lagos (TEL) que, ao tentar dinamizar a oferta artística, nos convidou a participar num evento enquanto espaço cultural e gastronómico. Iremos receber no nosso espaço o espetáculo “Por Sons Nunca Dantes Navegados”, que terá lugar no dia 22 de Março, pelas 19h00. Este será um momento de arte performativa para reflexão que consistirá numa viagem sonora por André Duarte (Júnior) e Tiago Rouxinol, acompanhada por jantar de olhos vendados. 

No âmbito do Programa 365Algarve, foi lançado o Projecto Festival Ventania, pelo TEL e a associação Corvo e Raposa: “numa época baixa nós propomos à população e ao turismo arte para refletir. O objetivo é trabalhar com espaços não convencionais (…) e o Mar d’Estórias veio aliar duas coisas muito interessantes: é um espaço que consegue trabalhar o que é nosso de uma forma sofisticada, protegida e cuidada; depois o próprio espaço em si tem uma estrutura muito interessante como espaço para se estar”.

Mais do que o percurso do Teatro Experimental de Lagos (TEL), enraizado na cultura Lacobrigense desde 1972, o Mar d’Estórias aproveita para contar a história de uma das associações culturais mais antigas do Algarve pela perspetiva de duas pessoas que marcaram o TEL – Silménia Magalhães e Nelda Magalhães.

Mãe e filha, em alturas diferentes, dedicaram-se e continuam a viver as artes performativas junto da comunidade, traçando o caminho do Teatro Experimental de Lagos até aos dias de hoje.

Silménia Magalhães

Silménia Magalhães

Com mais de 40 anos de vivência no TEL, Silménia começou como actriz quando tinha apenas 18 anos, confessando que “aprendi muito a todos os níveis. Tanto no tempo em que fiz teatro, autores que descobri, actores que conheci e cultura que adquiri”.  Após 2 anos na direção do TEL (1997) apercebeu-se que o grupo era demasiado amador, por isso, organizou 3 meses de workshop intensivo com formadores e técnicos profissionais para que o grupo crescesse em termos de apresentação. Sempre na luta para que o Teatro Experimental de Lagos evoluísse, algo constante durante os seus 17 anos na direção do TEL.

Nelda conta que, por vezes, assistia aos ensaios da mãe e “substituía os actores que faltavam”, no entanto só entrou na estrutura mais tarde quando já frequentava a universidade. A sua formação em Comunicação Cultural em Lisboa, a ligação com animadores profissionais e o trabalho como assistente de produção no Chapitô fez com que sempre estivesse ligada às artes. Por isso, não foi de estranhar qu

Nelda Magalhães

Nelda Magalhães

ando a sua mãe a tivesse chamado, em 2002, altura em que a associação passou a ter uma direcção composta maioritariamente por jovens. Esta foi a condição que lhe permitiu candidatar-se aos apoios do programa RENAJ do Instituto Português da Juventude e Desporto (IPDJ) para começar a coordenar o trabalho dirigido à classe jovem com performance apresentadas ao ar livre, como por exemplo, espectáculo para os Festivais dos Descobrimentos que começaram a surgir, em Lagos.

 

Com Silménia e Nelda, o TEL desenvolveu em torno da comunidade local projetos ligados à juventude com gosto pelas artes, mas não só! A formação internacional (na Hungria e Eslováquia) fez com que Nelda adquirisse um gosto diferente para dinamizar o Teatro Experimental, expandindo-o para a pedagogia artística que abriu as portas a um projeto muito querido – o NAIA, projeto dedicado à formação e intervenção cultural de crianças e jovens.  Paralelamente a isto, o TEL mantém o trabalho de rua, de palco e de poesia, este último que fomenta um elo “entre os colaboradores mais novos e os mais velhos da estrutura”, menciona Nelda.

Silménia passou a pasta da direcção à sua filha em 2014, no entanto não se conseguiu desligar por completo, continuando a tratar de alguma burocracia e a ser responsável pelo guarda-roupa: “verti algumas lágrimas, sorri muito e não estou arrependida de nada. (…) É uma grande aprendizagem aquela que o teatro nos dá. (…) Tive e continuo a ter uma vida muito rica.”

Agora, com um espaço físico consolidado (com sede na Antiga Escola Secundária Gil Eanes, em Lagos) e com Nelda na direção, a intenção do TEL é continuar a desenhar uma programação dirigida à comunidade, na criação e no acolhimento de espetáculos, formações, workshops e residências artísticas, bem como funcionar como um laboratório artístico permanente: “neste momento disponibilizamos aulas de teatro, aulas de salsa e dança contemporânea, yoga e capoeira também em projeto criativo.” O intuito é “conseguir ter uma franja de artistas a trabalhar profissionalmente o ano inteiro”.

Para além disso, existem outras actividades satélite como a mediação de leitura, pelo Grupo de Contador de Histórias do TEL, bem como colaborar ao nível das entidades autárquicas, culturais e do património. É o caso do evento “Por Sons Nunca Dantes Navegados”, do qual iremos participar. Por um lado, acreditamos que este espectáculo veio aproximar, ainda mais, o Mar d’Estórias à vertente cultural, à comunidade e às associações locais. Por outro lado, será sem dúvida, uma experiência cultural para refletir, degustar e sentir, no Mar d’Estórias.