O convite já estava feito há algum tempo, mas ainda não tínhamos tido oportunidade de rumar até às Caldas da Rainha. No entanto, tudo acontece por um motivo e chega na altura certa. A equipa da loja Mar d’Estórias aproveitou os últimos dias de férias para poder, finalmente, ir visitar a “novíssima” fábrica da Bordallo Pinheiro. Sim, porque apesar de centenária, a marca acaba de construir uma nova fábrica, com instalações maiores e melhor equipada, pronta para acompanhar o novo rumo da empresa.
E nós tivemos o privilégio, e a grande alegria, de sermos os primeiros a visitá-la e a conhecer as histórias fantásticas dos produtos que todos os dias vendemos na nossa loja. Fomos amavelmente recebidos pela Vanda, a Sandra e pelo Diretor-geral Tiago Mendes, que nos acompanhou numa verdadeira visita guiada.
Apenas passada a sala de showroom onde fomos recebidos, e seguindo todo o percurso que fazem as peças cerâmicas que nos chegam às mãos, percebemos rapidamente que de fábrica só mesmo as máquinas. Na Bordallo Pinheiro, podemos agora garantir, que todas as peças são feitas manualmente!
Começamos pelo gabinete criativo onde são discutidas as ideias e onde se fazem testes e moldes para novas peças. A seguir, na moldagem da matéria-prima, pudemos ver as famosas sardinhas a serem feitas. São elaboradas individualmente, em moldes cheios com muita precisão e, depois de algum tempo de secagem, são desmoldadas, as juntas cuidadosamente verificadas e aparadas. Os moldes têm de estar perfeitamente limpos e utilizados para produzir um máximo de 10 sardinhas, por dia. Consegue-se perceber a minúcia de todo o processo. Não pode falhar nem um milímetro, isto porque seguem para a sala onde várias senhoras aplicam, a decalque, os diversos desenhos. Tudo tem de sair perfeito. As cores vibrantes aparecem depois da cozedura e do vidrado; sem ver nem acreditamos que as cores são totalmente diferentes antes e depois da passagem pelo forno.
Ao longo de todo o percurso, vamos ouvindo a descrição calorosa e orgulhosa de Tiago e sentimos que vêm de alguém que, com muita simplicidade, é apaixonado pelo que faz e pela equipa que gere. Quase trezentos trabalhadores, mas que vivem num ambiente muito familiar. Muitos destes colaboradores estão há décadas na empresa e muitos, mais novos, recebem agora formação para dar continuidade ao saber e legado da marca.
A D. Isabel, numa outra sala, junta as várias peças de um lagarto gigante. Note-se que grande parte das peças são moldadas separadamente e depois montadas manualmente, unidas asas, patas, rabos ou cabeças cuidadosamente, selando as juntas, avivando os detalhes de uma forma completamente artesanal. Existem bancadas de trabalho com rodas, semelhantes às antigas de oleiro, onde as peças são terminadas pelas mãos destas senhoras. Na sala de pintura, as peças são mais uma vez pintadas uma a uma, artesanalmente. Secam depois em vários tabuleiros, amparadas por cunhos feitos à medida de cada peça, para impedir que descaiam antes de serem cozidas. Para o forno são levadas em carrinhos que são depois retirados e puxados com todo o cuidado e muito devagar. O processo de vidragem é também artesanal, feito peça a peça. As máquinas estão aqui para ajudar nos processos, mas não substituem em nenhuma das etapas as mãos e saberes humanos.
Sente-se calor, empenho e orgulho e compreendemos então a importância de saber como tudo é feito, de valorizar o trabalho manual e o produto Português, sobretudo aquele que carrega décadas de histórias.
Ao voltarmos à sala onde iniciámos esta viagem, sentimos também esse orgulho, esse valor e a vontade de o transmitir a quem na loja nos pergunta, sem sequer sonhar por quantas mãos passam: “onde é que são feitas estas sardinhas?”
Os nossos agradecimentos ao Engº Tiago Mendes, Vanda Carreiro e Sandra Fidalgo por nos receberem e nos acompanharem nesta viagem.