Há quem viva ansiosamente por esta época, há quem se renda porque tem crianças em casa e há quem dê um baile às máscaras e responda — Carnaval, são todos os dias. Existe o carnaval mais português de Portugal, existe o carnaval de cinco dias, e não de três e o carnaval mais brasileiro de Portugal. Todos compõem a mesma festa, a que servia para dizer adeus à boa vida antes da entrada da fase mais católica, a quaresma.
Em Portugal o que não faltam são corsos e carros alegóricos, bailes de máscaras, serpentinas e claro, as matrafonas. Dizem por aí que as plumas e lantejoulas são ideias importadas de um tal país chamado Brasil. Ao que parece, fomos nós mesmos que o descobrimos e exportámos a festa de três dias para o agora, Brasil rei do carnaval.
Nos cartazes das festas de Podence ou Lazarim, a palavra “carnaval” é substituída por Entrudo. O Entrudo chocalheiro de Podence, é hoje Património Imaterial da Humanidade. Imateriais são as emoções, as quais são impossíveis de descrever quando vemos os caretos chocalhar ruas abaixo contra as raparigas solteiras. Em Lazarim, ao contrário de Podence, raparigas e rapazes usam as máscaras talhadas de madeira. O traço da goiva do artesão marca feições diabólicas, com o propósito de não deixar dormir ninguém durante a noite.
Por outros carnavais passeiam os cabeçudos, os corsos infantis e as sátiras político-sociais. É em Torres Vedras que vemos mulheres nada vistosas e um pouco duvidosas ao longo da rua. É uma das tradições do carnaval mais português de Portugal, as matrafonas, que saíram pela primeira vez à rua no ano de 1926. Quem não tinha dinheiro para adquirir fatos de carnaval, pedia roupas emprestadas à mulher, irmã ou tia para passar um bom bocado de folia.
Várias cidades disputam o título de carnaval mais antigo de Portugal. Mas é a sul, em Loulé, que encontramos o corso com carros alegóricos mais antigo do país. Desde 1906, que o Carnaval Civilizado existe, e tornou-se a romaria de várias famílias algarvias quarenta dias antes da páscoa. Este carnaval, iniciou nesse ano, com uma vertente solidária, cada bilhete vendido revertia para os hospitais locais.
Em Sines, Sesimbra ou na Mealhada, até a mais tímida pessoa bate o pé ao som dos batuques do samba. A força da lusofonia rodopia nestes carnavais mais brasileiros de Portugal. Em Ovar, Estarreja e Alcobaça são as escolas que ditam o compasso dos desfiles e na última terra mencionada, o carnaval de três passa a cinco dias.
As coletividades enchem-se de pares dançantes, que escondidos atrás de uma máscara perdem qualquer vergonha de dançar ao som do Portugal mais popular. Há os concursos da melhor máscara, há o apita ao comboio em fila organizada, há as máscaras que metem medo e há as outras mais aperaltadas.
Por fim, sabemos que a vida são dois dias e que no carnaval há o bónus de serem três. Por isso, é tempo de rir até doer a barriga e deixar de sentir as bochechas, é tempo de dar tempo às gargalhadas prolongadas. É tempo do carnaval ou do entrudo, e de assistir a uma tradição antiga em que se festeja, essencialmente, a alegria.