Existe o Carnaval mais português de Portugal, o Carnaval de cinco dias em vez de três e o Carnaval mais brasileiro de Portugal. Todos fazem parte da mesma celebração, mas cada um tem a sua singularidade, mostrando que Portugal é verdadeiramente grandioso em tradições.
A origem do Carnaval pode remontar aos gregos, que, em tom de festa, agradeciam aos deuses pelas produções agrícolas entre o final do inverno e o início da primavera. No entanto, é mais reconhecido como uma celebração cristã, inserida nas comemorações da Páscoa. Segundo a religião cristã, nos quarenta dias que antecedem a Páscoa, conhecidos como a Quaresma, não se pode consumir carne. Assim, os dias que precedem a Quaresma ficaram conhecidos como “carne vale”, expressão latina que significa “Adeus Carne”, originando o termo “Carnaval” em Portugal.
O Carnaval brasileiro ganhou reputação mundial ao longo dos tempos, mas foram os portugueses que introduziram no país a tradição do Entrudo nos séculos XVI e XVII. Esta celebração caracterizava-se por brincadeiras nas ruas, onde se atiravam líquidos ou lama às pessoas. Felizmente, o Carnaval evoluiu e, em vez de atirar lama, agora há desfiles com carros alegóricos, adornados com lantejoulas e plumas. Atualmente, também podemos ver estas festividades reproduzidas nas ruas portuguesas durante o Carnaval.
Em Sines, Sesimbra ou Mealhada, até a pessoa mais reservada rende-se aos ritmos do samba. A influência do Brasil brilha em vários Carnavais de Portugal. Em Ovar, Estarreja e Alcobaça, são as escolas de samba que lideram o compasso nos desfiles, sendo que, nesta última localidade, o Carnaval, originalmente de três dias, estende-se por cinco dias, tornando-se o mais longo do país.
Noutros carnavais, desfilam os cabeçudos, os corsos infantis e as sátiras político-sociais. Em Torres Vedras, no Carnaval mais português de Portugal, destacam-se as Matrafonas, que surgiram em 1926. Fazem parte da tradição local e na verdade são homens disfarçados de mulher. Quem não podia comprar trajes, a solução passava por pedir roupas emprestadas à mulher, à irmã ou à tia, garantindo assim um lugar nas festividades carnavalescas da cidade.
Nos cartazes das festas de Podence ou Lazarim, a palavra “Carnaval” é substituída por “Entrudo”. O Entrudo Chocalheiro de Podence, é hoje reconhecido como Património Imaterial da Humanidade. São os caretos que fazem desta festa algo tão especial, enquanto chocalham as raparigas ruas abaixo. Em Lazarim, são as raparigas e os rapazes que se disfarçam com máscaras esculpidas em madeira. Cada traço esculpido nas máscaras pelo artesão, tem o propósito de criar feições diabólicas, para impedir que alguém consiga dormir durante a noite.
Várias cidades disputam o título de carnaval mais antigo de Portugal. Mas é a sul, em Loulé, que encontramos o corso com carros alegóricos mais antigo do país. Desde 1906, que o Carnaval Civilizado existe e tornou-se a romaria de várias famílias algarvias. Este carnaval, iniciou nesse ano, com uma vertente solidária, cada bilhete vendido revertia para os hospitais locais.
Por fim, sabemos que a vida são dois dias e que no Carnaval há o bónus de serem três. É a altura de rir até doer a barriga e de dar tempo às gargalhadas prolongadas. Seja o Carnaval ou o Entrudo, o que importa é a alegria desmedida desta temporada.