Hoje, o Mar d’Estórias vai descobrir o que faz uma casa ser tipicamente Algarvia. Vai procurar perceber o que diferencia as casas do Algarve das demais do nosso país. Da diversidade que se reflecte na arquitetura, nos materiais, técnicas e formas das casas que incorporam, ao longo dos tempos, influências externas e vivências dos seus moradores.

A proximidade com terras mouras e com os olhos postos no mar, as gentes desta região costeira, transformaram as suas casas em miradouros. As açoteias, de inspiração árabe, tinham como propósito permitir uma vigia constante ao mar, numa espera dos barcos de regresso da faina, mas também para secar os produtos regionais, como os figos e as amêndoas.

Mas o que faz com que as casas algarvias se destaquem? Que histórias refletem e que detalhes albergam? Ao nos debruçarmos sobre o tema conseguimos destacar elementos comuns que caracterizam as casas a Sul de Portugal. Temos que falar nas barras coloridas a emoldurar portas e janelas (platibandas) e a brancura da cal das paredes, refletora da luz do sol numa região tão solarenga. “É uma casa do Sul, como do Sul é o sol, de uma luz intensa.” 1 menciona o Arq. Mário Martins, que conduziu um estudo sobre o poder da cor na arquitectura Algarvia, nos anos 90.

No entanto, o símbolo mais marcante da arquitectura tradicional Algarvia é, indubitavelmente, a chaminé de detalhes decorativos únicos que traduziam as posses e gostos dos seus proprietários. Antigamente, costumava-se perguntar “quantos dias quer de chaminé?,” ou seja, quanto tempo o cliente pretendia que o trabalho levasse, pois o tempo ditava o custo do trabalho, mas também a sua beleza e pormenor. Mais do que úteis as chaminés eram também decorativas e começaram a ganhar importância, no Algarve, nos anos 20.  Rendilhadas, em forma de catavento, de pombal, de torres de igreja, de minaretes arábicos, as chaminés eram de intricados desenhos e de gosto popular. De todas as formas e feitios distinguimos as chaminés em três tipos, apresentados pelas ilustrações da Mafarrica2:

  • Em grelha horizontal

 

 

  • Vertical com jogos geométricos e rendilhados

 

  • De forma cilíndrica e decorada

 

 

A verdade é que o “Algarve típico” transformou a chaminé num dos principais elementos simbólicos da região; a expressão e síntese do “ser algarvio” na adaptação das gentes à diversidade região. As chaminés algarvias viajaram e continuam a correr mundo em postais, mas também em palavras carregadas de sentimento. Como é o exemplo da poetisa Nídia Horta, que dedica a sua escrita a este símbolo identitário, nos CADERNOS DE POESIA DE LAGOS (Nª29).

 

“A chaminé algarvia
tem um condão especial…
É fruto da fantasia,
deste povo sem igual,
de poetas, de sonhadores,
serranos e pescadores,
que viraram para os céus,
a pedir graças a DEUS
o fumo dos seus lares…
… a pedir …protecção,
para que, na casa,
pobre e rústica,
jamais faltasse o pão…
.
– A chaminé algarvia, rendilhada, bordada, fala de antepassados, que foram escultores de almas, ansiosos de ventura, de noites serenas, calmas, sem ódios nem amarguras…

Chaminés algarvias,
monumentos alvos de amor!
Sonho e fantasia,
da nobre gente algarvia,
deste Algarve todo cor…

E, sobre a telha escorregadia
Fica a chaminé algarvia
Como marca do destino
Deste povo beduíno…”

 

Se tiver uma chaminé trabalhada no topo será, com certeza, uma casa Algarvia!

 

1 Citação Mário Martins numa entrevista ao Diário Imobiliário.
2 Ilustrações à venda  em exclusivo no Mar d’Estórias.