Na constante procura do Mar d’Estórias em perceber as tradições locais, as artes de antigamente e o elo com a natureza, encontramos a história da inegável ligação dos Algarvios com o mar.
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Jody Lot e Teresa Duarte
Sempre consideramos o mar um elemento essencial nas nossas vidas, desde os Descobrimentos Portugueses, à procura de peixe para o sustento familiar até à diversão dos desportos aquáticos. Por isso não é de estranhar que o Algarve tenha visto nascer duas pessoas que fazem do mar a sua casa e que foram distinguidas por isso: Teresa Duarte e Jody Lot, Campeões Mundiais de Pesca Submarina.
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Teresa Duarte
O Mar d’Estórias esteve à conversa com Teresa, da Vila do Bispo, que afirma que “o contacto com o mar sempre foi muito natural e foi-me, desde pequena, incutida a caça submarina, assim como o bodyboard”. As tradições familiares de relação com o oceano foram as motivadoras de Teresa: “Toda a minha família por parte da minha mãe sempre esteve relacionada com o mar. O meu avô e tios eram percebeiros. A minha mãe e tia sempre gostaram de pescar e o meu irmão faz caça submarina.”
Tal como Teresa, também Jody, nascido em Lagos, agradece ao pai por o ter pressionado a começar a mergulhar: “por volta dos 7 anos o meu pai pôs-me a mergulhar só com os óculos. Eu estava cheio de medo e não queria. Mas assim que pus os óculos na cara dentro de água perdi-me! (…). Nunca mais deixei aquilo”. Jody recorda que começou a mergulhar com óculos e um tridente e que por volta dos 11 anos teve a primeira arma. Mergulhava sem fato durante meia hora, saia e agarrava-se às pedras do molhe de Ferragudo que estavam quentinhas: “ainda me lembro que a minha mãe chamava por mim por cima do molhe”.
Há quem diga que uma vez em contacto com o mar, nunca mais a ligação se perde. Acaba por ser uma necessidade inerente ao corpo e à alma: “o mar é a minha terapia, o meu psicólogo”, confessa Jody. E o que talvez se faça por diversão, acaba por ser uma forma de vida e de subsistência: “comecei a praticar bodyboard quando tinha 14 anos (…) agora sou apanhadora de animais marinhos de profissão, principalmente perceves, mas também outros mariscos”, menciona Teresa.
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Jody Lot
Teresa, de 35 anos, nunca teve ambição em competir na caça submarina, mas surgiu a oportunidade de entrar para o mundial, que decorreu em Sagres em Setembro, por não “haver raparigas para competir na modalidade”. Já Jody, de 37, sempre sonhou ser campeão nacional e tinha muitos ídolos de infância: o João Rosário em Portimão, o Toninho, o Rui Torres e o André Domingues. Comecei a competir com os meus ídolos e aos poucos fui ganhando!”. Incrivelmente o Campeonato Nacional de Pesca Submarina só foi ganho depois de alcançar o título no Campeonato Europeu (2011, Peniche) e no Campeonato Mundial, pela primeira vez, em Vigo (2012).
É importante referir o espírito de união e apoio das comunidades locais a estes atletas. Muitos foram os que contribuíram para que o Jody conseguisse representar Portugal nos campeonatos do mundo noutros países: “quando fui Campeão do Mundo em Espanha estive 20 dias em prospeção. Uns dias foram pagos pela Federação, outros juntei dinheiro e os restantes dias foram pagos com ajudas das entidades locais de Alvor, Portimão e Carvoeiro”.
Estes filhos da nossa terra, mas conquistadores dos mares, respeitam os oceanos e, tal como o Mar d’Estórias, consideram a caça submarina um dos desportos mais ecológicos e sustentáveis existentes. Neste tipo de pesca o próprio mar faz o defeso, não permitindo que se mergulhe mais do que “80 vezes por ano, muito devido à visibilidade da água, das ondas, da corrente das águas e da chuva”; “É uma pesca selectiva e a que menos polui o oceano”, cita Jody. A juntar a isto, é de louvar os planos de recolha de lixo no mar que os federados da pesca submarina e os clubes locais organizam, uma vez por ano.