São quarenta e seis anos de Liberdade pintada de vermelho pelos cravos de Abril. Neste dia, há quarenta e seis anos atrás, descobrias que não eras livre, e provavas pela primeira vez o sabor da liberdade de expressão, de escolha e de ser simplesmente livre. Viste ser construída a noção do dever da liberdade, porque a liberdade não é um direito adquirido, é um dever de todos, para todos. Porque a liberdade não é minha nem tua, é de todos.
Após tantos anos, voltaste a sentir que Abril fez sentido. Sentiste que cada letra da liberdade foi construída a ferro e fogo. Sabes isso agora, porque te dás conta que és livre apenas quando perdes um pouco da tua liberdade. Embora inconsciente, empenhaste-te em ser mais livre que no dia anterior. Por essa razão, não aproveitaste o livre arbítrio de ser livre e tornaste-te prisioneiro desse desígnio.
No último mês, a tua habitual liberdade ficou confinada a quatro paredes. Ela não desapareceu, apenas ficou privada do contacto com tantas outras liberdades. Tens agora um segundo Abril, que te sussurrou uma nova história sobre como não deves esquecer o quão livre és. Nunca poderás esquecer o quão livre terás de deixar os outros ser.
Dentro das quatro paredes que te circundam, sê autêntico e pratica a liberdade de seres tu, sem que tenhas as condicionantes vindas de um ecrã. Quando for o momento, fora das quatro paredes, pratica a tua liberdade com a dos outros, essa é máxima responsabilidade que o Abril de 74 te propôs.
Nunca dês por garantido o dia livre de amanhã, deves ter esperança, mas nunca se sabe as voltas que o mundo dá. Há quarenta e seis anos não podias falar abertamente, as mulheres da tua vida não tinham opinião no rumo deste país. Saías à rua vestido com um par de bons costumes, uma camisa religiosamente engomada e uma mordaça invisível para amparar as tuas convicções. Há umas semanas atrás, eras assíduo na tua rotina semanal, aos fins de semana confraternizavas ou desmarcavas encontros e viajavas no avião da globalização, eras mais livre. Não te aflijas, tudo irá passar e será uma questão de adaptação. Porque és livre de adaptar a tua liberdade a qualquer situação.
Os ensinamentos de Abril têm vários conceitos e contornos, mas que devem perdurar na memória de todos. A liberdade é conquistada por ti e por mim, quem a condicione nunca poderá se julgar livre, ficará para sempre preso a essa luta.